Por Jones Leal
A Carreira Policial Federal é uma farsa. Um engodo. Um faz de conta que, pelo andar da carruagem da fantasia, trilhará ainda por muitos anos pelo longo caminho da ilusão.
Sou um Agente de Polícia Federal de 2ª classe, tendo atuado permanentemente combatendo criminosos, fazendo grandes apreensões de drogas, confrontando com bandidos e prendendo poderosos. Antigamente, no início da minha carreira, imaginava quão gratificante seria usar o uniforme ostensivo da PF, participar das grandes prisões que a mídia noticiava e, ainda, ser bem remunerado.
Olhando para o futuro, prevejo que daqui a dez anos, serei um Agente de Polícia Federal da classe Especial. Enquanto não chego lá, fico pensando em quantas investigações terei que fazer, quantas batalhas terei que enfrentar e quantas terei que ganhar. A atividade do profissional da segurança pública é assim mesmo: muita luta muito trabalho, muitas dificuldades, muito stress... Mas o lado bom desta profissão é que a cada dia que passa você acumula mais experiência, que servirá para colocar em prática na próxima missão.
Esta semana tive uma surpresa! Fiquei sabendo que o meu sobrinho está fazendo cursinho pré-vestibular. Quer fazer o curso de Direito. Que orgulho para quem o carregou no colo, o colocou nos ombros na tenra infância e o ensinou a dar o primeiro chute na bola que o presenteei! Ele sempre manifestou a vontade de seguir a carreira do tio. Fiquei feliz.
O tempo passa rápido. Faço as contas e me assusto. Meu sobrinho fará um ano de pré-vestibular, depois mais cinco anos de faculdade. Sairá o edital para o concurso da Polícia Federal, ele estará fazendo um curso preparatório e decidirá seguir a carreira de Delegado de Polícia Federal.
Após estudar e se aprofundar nas matérias específicas do concurso, ele conseguirá aprovação no exame e deixará toda a família orgulhosa do seu esforço. Será então chamado pela Academia Nacional de Polícia para o curso de formação.
A essa altura, estou me preparando para passar para a Classe Especial e terei uma grande surpresa quando certo dia entrar na minha sala de trabalho: O MEU SOBRINHO SERÁ O MEU CHEFE! É ele quem comandará as minhas ações, as atividades investigatórias do meu cotidiano policial.
Num momento em que as diversas categorias discutem a Lei Orgânica da Polícia Federal, fica a impressão de que há uma cegueira consentida entre elas.
Analisando o mercado de trabalho na atual conjuntura brasileira e mundial, fica patente a vontade das empresas em buscar profissionais cada vez mais qualificados, que tenham experiência para preencher uma vaga oferecida. Contudo, o que se vê muito claramente, é que as coisas no Departamento de Polícia Federal caminham no rumo inverso da sensatez e da normalidade.
Os que não possuem experiência alguma ganham espaço e dizem que são treinados para comandar os experientes servidores. Uma empresa séria, que busca o crescimento e o reconhecimento no mercado, nunca colocaria um estagiário em um cargo de diretoria. Com certeza, procuraria uma pessoa qualificada e com experiência, não só profissional, mas de vida também.
Tenho ouvido muitas asneiras nestes últimos tempos. Coisa hilária. Alguns - ditos "concurseiros" - que vieram passar um tempo na Polícia Federal, dizem que todos têm inveja dos “chefes” e que os Agentes, Escrivães, Papiloscopistas (e até os Peritos!) deveriam fazer o concurso para “chegar ao seu patamar”. Isto é ridículo! O que pesa aqui não é o cargo, nem as atribuições, das quais eles tanto se orgulham. O fato de estarem em uma determinada função, não tira em nada o mérito e a experiência dos Agentes, Escrivães e Papiloscopistas. Competência é uma característica de quem sabe trabalhar bem, e não é um simples bacharelado e uma prova objetiva de um concurso que vai dizer se ele é ou não capaz de comandar uma operação policial.
A classe “operária policial” que muitos assim classificam, não está buscando usurpar cargos ou funções. Está sim procurando mostrar que em determinados setores da Polícia Federal, quem deveria estar à frente é o policial que reúne mais condições de conhecimento, mais experiência e mais vivência profissional.
No FBI, a toda poderosa Polícia Federal americana, a qual muitos organismos policiais em todo mundo buscam espelhar-se, não coloca um policial novo à frente de um caso. Os policiais que ingressam nesse tão respeitado organismo vão ao longo dos anos e com o seu labor, buscando o tão sonhado posto de Agente Especial, o que apesar da nomenclatura, nada tem a ver com a realidade da Polícia Federal brasileira.
Com relação ao Brasil, a Polícia Federal tem trilhado a passos largos na contramão do caminho do bom senso. Não é de hoje que os especialistas em Segurança Pública sugerem mudanças no aproveitamento inteligente dos profissionais com larga experiência policial, apostando na coleta de melhores resultados para a instituição.
Internamente, contudo, o assunto é tratado como "cláusula pétrea" das leis e regulamentos, visando a beneficiar aqueles concurseiros que veem na Polícia Federal apenas uma forma de garantir emprego e um bom salário.
O tempo está passando e cada vez mais tem sido comum a identificação de erros operacionais causados pela inexperiência na condução dos trabalhos, que se não conseguiram colocar por terra o trabalho de equipe, por certo impediram a obtenção de resultados mais satisfatórios.
É hora, pois, de respeitar a experiência dos policiais, valorizando-os e dando-se-lhes postos de chefia e de comando, antes que o Departamento de Polícia Federal naufrague em suas próprias águas.
Jones Borges Leal é Presidente do SINDIPOL-DF